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29.10.15

Design ativismo de Fabio Lopez:
por um design com pensamento crítico


Começamos lembrando que todo design, toda escrita e qualquer fala tem uma mensagem a ser transmitida, resta-nos escolher qual será esta mensagem.

Apesar de definições, muitas vezes, não conseguirem explicar as coisas recorro a uma delas :) Começo esta breve conversa sobre ativismo no design trazendo uma definição de designer ativista, que seria:  “uma pessoa que usa o poder do design como um bem maior para a humanidade e para a natureza. É um agente livre, um catalisador social; um facilitador e criador. Alguém que faz as coisas acontecerem". Esta definição é de autoria do designer ativista e escritor Alastair Fuad-Luke, autor do livro “Design Activism – Beautiful Strangeness for a Sustainable World”, de 2009, e de diversas outras produções mais recentes. Foi quem também cunhou o termo Slow Design.  Segundo ele, esse ativismo tem um duplo objetivo: trazer impactos positivos para a vida e o trabalho, e desafiar e revigorar a prática do design.

Podemos também trazer que o designer ativista está ancorado no design autoral e, geralmente, pretende transmitir uma mensagem que considera importante, que têm como fundamento manifestações políticas, ambientais ou sociais.

Tá. Ok. Entendi. Mas como eu faço isso? Bom, nós, designers, podemos contribuir diariamente em nossa atuação profissional. Para entendermos melhor convido-os a conhecer Fabio Lopez, carioca, designer e mestre pela ESDI/UERJ, e professor da PUC-Rio. Em 2015 publicou o projeto mini Rio, uma homenagem e um extenso exercício de representação visual que resultou na criação de mais de 200 pictogramas e padronagens sobre a cidade do Rio de Janeiro. É autor dos projetos War in Rio, Bando Imobiliário Carioca e Batalha na Vala, tríade de paródias que aborda o tema da violência urbana na cidade do Rio de Janeiro. Trabalhou na criação da marca dos Jogos Olímpicos 'Rio 2016' (é ele no video abaixo a partir do minuto 3:06) e desenvolveu a identidade visual do Centro Carioca de Design, além de diversos outros projetos, também pesquisa design filatélico e desenvolve selos postais para os Correios do Brasil.








Sobre a trajetória de Fabio Lopez

"Depois de 15 anos de carreira, ao renovar meu cartão de visitas, escrevi embaixo do meu nome algo que me orgulho muito de ostentar: designer independente. Isso quer dizer que consegui algum tipo de autonomia profissional - bem como confiança e maturidade - para determinar o que quero fazer e onde quero investir meus esforços criativos. Seguramente não era o tipo de coisa que eu almejava como definição quando era estudante ou recém formado. Talvez eu quisesse ter minha própria agência de design, com clientes grandes, cadeiras caras, reuniões intermináveis... Hoje em dia tudo que eu quero é sentir cada vez mais o vento na cara e poder escolher os projetos que desejo realizar - e isso me custou muito empenho para escrever outra coisa no meu cartão pessoal (o que não exclui reuniões, clientes e cadeiras - não tão caras, rs)."




Fabio Lopez acredita que o design gráfico é um poderoso instrumento de produção cultural e discussão política

"Quando assisti o primeiro 'Tropa de Elite' numa segunda feira chuvosa e feia, fui sozinho, pra pensar... O filme já era aquele sucesso: todos repetindo as frases do Capitão Nascimento e idolatrando o Bope como justiceiros da cidade, sem aprofundar o que aquilo significava de fato. Sempre me interessei muito pelas questões de segurança pública da cidade, em função do tamanho do problema e da maneira como ele afeta a todos nós, cariocas ou não. Então tudo isso (o filme e a repercussão) me perturbava um bocado, sobretudo pela maneira excessivamente descontraída como as pessoas estavam se relacionando com um tema pesado, triste e que impactava muitas pessoas de um jeito muito duro para virar piada."

"Saí do cinema num clima pesadão (apesar de ter curtido o que vi, é uma produção muito boa), olhei em volta e pensei 'estou no set de filmagem, que merda'. O filme desceu de lado, e eu resolvi realizar um projeto que há muito adormecia na gaveta. Foi o incentivo, o empurrão e o contexto de criação, ou seja, o caldo onde esse coacervado resolveu vertebrar-se ao contato dessa faísca proporcionada pelo filme do Padilha."

Assim surgiu o jogo manifesto WAR IN RIO de Fabio Lopez.







War in Rio - primeiro jogo manifesto de Fabio Lopez


"O 'Tropa 2' tem um discurso bem mais maduro (assim como o Bando Imobiliário), e conta uma história ainda mais profunda. A sequência me veio instantaneamente, como opção à prostração, tristeza e a desesperança que o filme consolida."










Bando Imobiliário Carioca - jogo manifesto de Fabio Lopez


"Costumo dizer que nem sempre a força motriz de um bom projeto provém de uma energia estritamente 'positiva'. Muito pelo contrário, as vezes raiva, angústia e indignação são elementos mais poderosos para te colocar em ação que esperança ou vontade de fazer o bem. Não só a violência urbana, mas a injustiça social desse país é /ou deveria ser um agente catalisador de grandes projetos pessoais, autorais e independentes. Nem todo mundo tem vocação para ação, mas não é pouca coisa parar o que se está fazendo, ou redirecionar seu discurso para causas realmente importantes - no lugar de simplesmente alimentar a máquina de consumo. São 5 minutos que você rouba das pessoas para desperta-las desse constante estado de anestesia. O resto do tempo é preenchido com entretenimento - algo que tanto aqueles filmes como meus projetos não deveriam ser."
Batalha na Vala - mais um da série de manifestos sobre a violência urbana




Sobre ser um designer ativista 

"Tomando ao pé da letra o termo, geralmente meu ativismo fica por conta de minha atividade acadêmica. É uma geração muito carente de mentores, por que a maioria dos profissionais reconhecidos no mercado está associado à maquinação do consumo e não ao pensamento crítico (como há alguns anos atrás já não foi assim). Nessa batalha silenciosa da academia, estou investindo minhas energias há alguns bons anos."

"Todo designer que está envolvido com educação é ativista por natureza - derive seu envolvimento de uma convicção ou necessidade. Passo boa parte do meu tempo trabalhando em prol da capacitação profissional de novos designers - tenho feito isso nos últimos anos - e essa é uma ação concreta de transformação. Mas não vejo muito sentido em buscar algum tipo de classificação pra determinar se esta ou aquela ação se enquadra na definição clássica de 'ativismo' (no sentido mais físico ou concreto da palavra). Todo projeto é uma afirmação capaz de impactar em algum nível a sociedade: a grande questão é saber de que maneira queremos fazê-lo, qual a mensagem, ou quem e o quê estamos querendo transformar."



Sobre o papel dos designers na realidade social e política de nossas cidades, país e mundo

"Designers sabem manusear como poucos profissionais ferramentas de comunicação muito poderosas: vivemos num mundo intermediado por imagens, e somos produtores altamente capacitados de forma e conteúdo. Podemos usar nossa expertise profissional para convencer as pessoas a amarem uma marca ou ampliar as vendas de um salgadinho - ou para evidenciar, destacar e denunciar algo importante e de interesse coletivo. Infelizmente, a grande maioria dos designers não pode simplesmente escolher um caminho pelo qual deseja seguir: o dinheiro circula através das redes de financiamento do consumo e romper com essa estrutura nem sempre é uma opção simples, ou uma escolha propriamente dita. Gostaria muito que todos saltassem desse bonde desenfreado do consumo, mas isso é uma utopia à qual não me permito acreditar. Quem sabe criamos linhas paralelas de atuação, até criarmos modelos de financiamento capazes de competir em pé de igualdade com a indústria do consumo. Aos pouquinhos, cuidando com mais carinho das novas gerações, proporcionando espaços de reflexão, experimentando alternativas de empreendedorismo e remuneração independente, talvez equilibremos essa balança. O que não podemos aceitar é a ditadura do consumo como modelo único de atuação: essa é uma compactação atrofiada de nossa capacidade profissional, inadmissível. Podemos muito mais que isso!"


Fabio também criou o manifesto "12 passos para um Design não solicitado"  no qual o texto sugere em 12 etapas a criação de um design propositivo e não solicitado para fazer a diferença. Neste, Fabio Lopez pensou no designer empreendedor e no designer ativista porque "o designer ativista é um empreendedor de causas e discursos. Então é uma separação muito sutil, geralmente associada à remuneração ou exploração comercial de suas ideias. Mas até isso pode ser relativizado."



"O 'manifesto' é uma adaptação de um texto muito interessante do arquiteto australiano Rory Hyde, que propõe em seu campo de trabalho e pesquisa uma atuação pautada pelo empreendedorismo pessoal através de iniciativas 'não solicitadas' de projeto. Ou seja, você encontra o problema e/ou oportunidade no seu entorno e propõe uma solução ou ação projetual, sem necessariamente a existência de um cliente ou de uma demanda formal de trabalho. Estou trabalhando para consolidar o projeto mini Rio como uma oportunidade comercial independente e propositiva, por exemplo. Não sei se a ideia original de Mr. Hyde estabelecia algum tipo de distinção entre 'ativismo' e 'ação empreendedora', mas eu não faço isso nessa versão adaptada. Não sei se por 'ativismo' as pessoas entendem uma ação dissociada de remuneração ou retorno financeiro, mas isto não está lavrado em nenhuma parede de mármore ou nos 10 mandamentos do bom designer, rs. O designer-empreendedor é ativista por natureza, assim como o professor, assim como o cara que trabalha pelo salgadinho safado (um mau ativista), e também aquele que propõe algum tipo de reflexão sobre sua prática profissional..."

"Design é ativismo, e nesse sentido é muito importante refletirmos sobre as causas pelas quais nos colocamos em ação." Fabio Lopez



A intenção aqui é provocar o pensamento crítico de nossa atuação enquanto profissionais. No meu ponto de vista o profissional de Design tem acesso a conhecimentos importantes, e cabe a nós aplica-los da melhor forma possível.

Nossa atuação profissional é a forma como colocamos em prática todos os valores no qual acreditamos como ideais para a nossa vida e da nossa sociedade. Porque não sermos mais críticos e mais conscientes de nosso papel dentro do social?

Toda idéia tem uma intenção :) É disto que trato neste blog, buscar novos pontos de vista do mundo, das coisas, a partir das pessoas, novas abordagens sobre os antigos problemas e que estas sejam principalmente mais conscientes. Precisamos assumir a nossa responsabilidade quanto ao papel de cada um em relação ao seu projeto. Seja qual ele for! Afinal quem aqui já parou para pensar que ao mesmo tempo que criamos peças lindas de design também criamos resíduo? A responsabilidade ai é nossa, vamos assumir este papel!

Face a Book - ilustração de Fabio Lopez


Nada melhor para finalizar esta postagem com chave de ouro do que trazer uma frase de Fabio Lopez direto do site de um de seus jogos:

Faça das horas vagas um tempo nobre, dedicado ao exercício de questões pessoais e boas idéias. Sua profissão pode ter um papel fundamental na criação de uma comunidade mais engajada e consciente.

Torne visível o que te incomoda:
o design é a sua voz!

Curtiu as idéias de Fabio Lopez? Ele estará na DOCA no Rio de Janeiro, hoje, dia 29 de outubro de 2015, para falar do seu mais recente projeto Mini Rio, clique aqui para saber mais.

Você pode ver grande parte dos projetos de Fabio Lopez lá no seu Flickr e no seu Issuu e acompanhar as novidades do projeto Mini Rio pelo facebook do projeto

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