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23.8.14

Processo Criativo de uma Capa



Trago aqui o relato de todo o processo criativo e de aprovação do trabalho de Eduardo Foresti na criação da capa do livro 'Manual Antiautoajuda'.

Na postagem do designer só são apresentadas as opções entregues, mas sabemos que para chegar nas entregas existem diversas opções não apresentadas… então imagina o trabalho! Nesse processo de idas e vindas nos vemos em cada etapa como profissionais em nossos projetos… Bom para vermos que não acontece apenas conosco :)  Eduardo Foresti  acrescenta: "Nem sempre é assim, é claro. Muitas vezes a aprovação é feita na primeira apresentação, sem mudanças. Outras vezes várias versões são feitas até se chegar ao resultado final. Nesse caso, embora o processo tenha sido desgastaste e mais longo que o normal, a solução final me agradou tanto que me esqueci dessa demora."

Então confira agora as idas e vindas citadas pelas palavras do próprio Eduardo Foresti, que nos autorizou a trazer seu relato na íntegra:



"Escolhi este projeto porque gostei bastante do resultado final e também porque me senti desafiado pelo tema. Mas quem vê a capa sendo vendida ou mesmo fotografias dela talvez não saiba que antes dela ser impressa eu tive várias outras ideias que, por uma ou outra razão, acabaram não sendo as escolhidas.

Quando o briefing chegou, achei o tema bem interessante. A editora sempre manda o original do livro junto, mas dessa vez consegui ler apenas algumas páginas porque estava com vários trabalhos em andamento. Como inspiração busquei a capa do livro americano, que não curti muito, e assisti um video bem bacaninha que explica o livro e que a editora me mandou.

O prazo pra se mandar uma ideia é geralmente de umas duas semanas. Às vezes eu acerto de primeira, com apenas uma ideia, às vezes o processo é um pouco mais longo, com algumas idas e vindas. Dessa vez eu logo de cara tive três ideias que eu achei boas e mandei antes do prazo terminar.

Em duas delas eu apostava bastante e em uma eu não acreditava muito. É estranho porque mesmo depois de quase vinte anos trabalhando como designer eu ainda não sei quando as pessoas vão realmente gostar de algo que eu fiz. Acho que eu desenvolvi uma certa autocrítica mas nunca posso dizer com certeza 'esse trabalho vai ser aprovado'. Mas talvez essa incerteza seja uma das coisas que mais me atraem no design; não saber nunca com certeza se algo está bom ou não. Minha técnica é mostrar pra amigos ou familiares e ver a reação delas. Se uma pessoa gostou, muito provavelmente todas vão gostar."




"A primeira imagem que eu mandei foi a do título escrito dentro de um guarda chuva e o subtítulo e nome do autor sendo protegidos por ele. Eu gostei bastante porque achei que a chuva e as nuvens simbolizavam bem o mau humor e o guarda chuva era a proteção momentânea que se tem ao se proteger da chuva."





"A segunda capa que eu mandei eu gostei bastante. Ela era baseada no video que contava a historinha do livro, mas para que ficasse mais enfática fiz dois rostos mais expressivos se entrelaçando."





"A terceira opção que eu enviei era a que eu menos gostava. Talvez porque a ideia não estava muito clara nos símbolos do sol e da lua, talvez porque o resultado gráfico final não tenha sido o melhor. Ninguém que viu gostou dessa. Mesmo assim eu mandei. Depois de alguns dias recebi a resposta. A opção com o guarda chuva era a que mais tinha agradado, mas já havia um livro de uma outra editora que tinha usado a mesma ideia. É uma daquelas coincidências imponderáveis e tristes que muitas vezes acontecem na vida de um designer. A capa dos rostos não agradou porque estava pessimista e triste demais, e a terceira opção não foi nem cogitada"




"Como eu tinha gostado da opção dos rostos entrelaçados, resolvi tentar novamente, mas dessa vez colocando em proeminência aquele que estava sorrindo. Não agradou novamente. Nesse momento bate aquele pequeno desespero. Tive que recomeçar do zero, resgatando ideias que eu não tinha nem enviado na primeira tentativa e tentando imaginar novos caminhos"



"Resgatei então uma ideia que eu não tinha nem mandado na primeira tentativa e ela agradou de cara. O único detalhe é que foi pedido que o texto que estava de ponta cabeça deveria ser rotacionado e ficar no sentido normal. Achei que isso tirava um pouco da estranheza da capa, mas fiz o teste. Além disso foi sugerido que as palavras Anti e o nome do autor fossem escritos em vermelho."



"Com as modificações feitas, a capa foi aprovada. Cheguei a fazer a arte final dela e enviar, mas não estava satisfeito com o resultado. Achei que um tema tão rico merecia uma capa melhor."



"Recomecei do zero, mesmo depois da capa ter sido aprovada, e enviei uma nova opção totalmente diferente. Usei só cores primárias e desenhei no centro dois rostos - um feliz e um triste - sobrepostos. A capa acabou sendo aprovada e foi a opção escolhida."

As vezes é bom que nós designers sejamos perfeccionistas :) ...quando fica aquela sensação de "dá para fazer melhor" porque não tentar? Parabéns ao Eduardo pelo excelente resultado final e agradecemos que tenha compartilhado todo o processo conosco.

Acho que esta postagem acaba levando muitos ao velho debate sobre clientes. Então, antes de mais nada, trago aqui um video do Design Council onde designers de renome falam sobre o assunto "Construindo um relacionamento designer/cliente" (Building a designer/client relationship) #ficaDica :)



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2 comentários:

  1. Conselhos para os mais jovens, de quem fez mais de mil e seiscentas capas de livro.
    1. Nunca envie mais que 3 leiautes de capa para o mesmo livro. Em 90% dos casos, o editor pede para você juntar a imagem de um, o letering do outro e as cores de outro. O resultado é a famosa capa-Frankenstein.
    2. Nunca entregue a capa em menos de uma semana. O editor vai querer encurtar cada vez mais o prazo em relação aos seus trabalhos seguintes.
    3. Sempre aplique na capa o logo da editora desde os primeiros leiautes. Os editores são muito vaidosos.
    4. Valorize o seu trabalho. Nunca aceite menos do que a tabela. Há um certo consenso entre as editoras médias. Não pense que, cobrando menos, terá sempre trabalho.
    4. Visite a página da editora. Exija um briefing detalhado e fique mais atento ao que 'eles' não gostam do que ao que eles gostam.
    5. Saiba que quem sempre ganha mais com uma capa maravilhosa é a editora e não você.

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    1. Ótimas colocações Moema :)

      Seja sempre bem vinda!
      Abs,
      Carol Hoffmann

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